O mecânico do mal e o do bem

O Uno começou a dar umas falhadas na arrancada e na retomada em marchas baixas. Nada de muito sério, apenas umas tossidas eventuais, mas fiquei preocupado. Vai que essa djanha estraga na estrada?

O do mal

Fui em uma mecânica perto de casa. Lugar grande, com uns 6 mecânicos e espaço para consertar uns 8 carros simultaneamente. Fui lá cedo, estava vazio. “Estou com sorte”, pensei. Após explicar o problema, o cara pediu que eu deixasse o carro para fazerem um orçamento. Ele nem deu a partida, não quis dar uma volta para ouvir a falhada. Achei estranho. “Passa aqui depois do almoço”. Voltei a pé para casa.

De tarde, liguei para a oficina antes de sair, o orçamento não estava pronto ainda. “Xiii…”. Somente no fim da tarde, perto das seis, me ligaram.

  • “Ficou em 750 reais. Tem que trocar as duas bobinas, é duzentão cada, trocar o filtro de combustível, trocar o blablabla” e ditou uma lista de vários itens.
  • “Dá pra trocar só metade disso tudo?”, mendiguei.
  • “Não, é tudo essencial. Se não arrumar você vai ficar na rua.”, aterrorizou.
  • “Nem a pau! Que roubo!”, pensei. “Não vou fazer, obrigado”, falei.

Fui lá e peguei meu Uninho de volta.

O do bem

Dia seguinte, voltando para casa, peguei uma rua diferente, estreita e tranqüila. Em uma das casas, tinha uma placa pequena indicando que ali era uma oficina. Resolvi arriscar. Era uma residência, a oficina funcionava na garagem. Espaço apertado, já havia dois carros no conserto, apenas um mecânico. As ferramentas estavam organizadas e o chão estava limpo. Li no cartaz que ele é um mecânico autônomo, que antes trabalhava em autorizadas.

Expliquei o problema. Ele interrompeu o conserto que estava fazendo e veio ouvir o motor do Uno. “Opa, demonstrou interesse”, pensei. Ficamos alguns minutos ali acelerando e esperando a bendita falha acontecer. Sabe que nessas horas tudo funciona redondinho, né? Ele não desistiu. Mais um pouquinho e cof! cof!, aconteceu.

  • “Pelo barulho, ainda não dá pra saber o que é. Volte aqui se piorar.”, diagnosticou.
  • “Pode ser as bobinas?”, cutuquei.
  • “Pode. Mas se for é apenas uma que queimou e custa 80 reais. Mas não adianta mexer ainda.”, concluiu.

Falou com confiança e me convenceu. Fiquei instantaneamente tranqüilo e satisfeito.

Minha conclusão: o mecânico n.1 não sabia o que era o problema, então resolveu trocar tudo o que talvez poderia ser para no escuro acertar algo. E o preço inflacionado da bobina? De 80 para 200 é chão… O mecânico n.2 também não sabia o que era o defeito, mas demonstrou conhecimento e me deixou tranqüilo, resolvendo meu problema sem fazer conserto algum. E o melhor, ao custo de zero reais.

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