BINGO!

Essa aconteceu na sexta-feira passada: eu e a Mog fomos no bingo. Ou melhor, fomos na mega-festa de São Pedro e lá jogamos o “binguinho”.

A Festa de São Pedro é o evento máximo de Matinhos: dura 10 dias, acontece todos os anos e já está em sua 64ª edição. O povo espera o ano todo pela semana da festa, vem gente de todos os balneários e cidades próximas.

A Praça Central (aquela, na frente da igreja) é tomada por barraquinhas de comida, mesas e cadeiras, área de bingo e palco para shows. Entrada franca. Tudo muito simples, sem frescurada.

Os jovens são atraídos pelos shows brega-sertanejos que acontecem no palco e os mais velhos são atraídos pelo bingo. Diariamente a dobradinha show+bingo lota a festa, fazendo a alegria dos comerciantes locais com suas barraquinhas de guloseimas.

Era o dia de abertura da festa. Tudo começa com uma missa, pois afinal, é uma festa religiosa. Pulamos essa parte e só chegamos por lá tarde da noite, quando já tinha começado o show sertanejo.

Paramos para ver o show, foi divertido! A banda era composta por dois cantores, um tecladista e um cara no acordeon. Com suas roupas e cabelos, digamos, diferentes, fizeram poses e passinhos sincronizados enquanto tocavam as músicas.

Lembrei daquele Miranda no Astros criticando uma banda sertaneja que foi tocar lá. Ele disse algo como “vocês tocam bem, mas deviam sair desse tema mulher & cerveja, é sempre a mesma coisa!”. Comprovei o fato :)

Beber, cair e levantar…

Mas tínhamos uma missão naquela noite: jogar bingo.

Ali ao lado era a área de bingo, com várias mesas de plástico e um tablado no meio, que abrigava os prêmios, o locutor engraçadão e o globo das bolotas mágicas.

Os prêmios em geral eram simples, como cestas de alimentos, panela de pressão, tábua de passar roupa, brinquedos toscos e utensílios domésticos em geral. Simples, porém valiosos para muitas das pessoas humildes que estavam lá. Com a cartela barata, todos podiam participar.

O preço era de R$ 2,00 cada cartela, que valia para quatro rodadas. Eu peguei uma e a Mog outra. Ela já conhecia, mas eu ainda estava sem saber direito como funcionava esse tal de bingo.

Sentamos. Tinha milho na mesa. Tá, o milho é para marcar na cartela o número que der na bolinha do globo do carinha do tablado. Isso eu entendi. Mas…

  • Quando ganha?
  • Se ganhar faz o quê?
  • Grita?
  • Levanta os braços?
  • Acena para o locutor?
  • Sobe na cadeira e grita SEEEEEEEIS PAPUDO?

Felizmente a Mog esclareceu minhas dúvidas de iniciante no misterioso mundo dos velhinhos empolgados: não precisava preencher a cartela toda. Bastava uma linha, coluna, diagonal ou “quatro cantos”. O indiozinho tosco no meio era uma espécie de curinga, valia como se estivesse preenchido. Se ganhar grita “bingo”.

Tá.

Ia começar a primeira rodada. Colocaram os prêmios ao lado do globo e a Mog ficou vidrada em um cesto de plástico (para colocar roupa suja). Era o prêmio da primeira rodada e ela disse “Eu quero esse cesto”. Até me assustei com tamanha determinação :)

O engraçado é que justo naquele dia nós tínhamos comentado que eu precisava de um cesto desses aqui em casa, pois eu colocava as roupas sujas no balde do tanque. Além de ser pequeno, é o balde do tanque, então tinha que tirar as roupas dali para usar. Nada prático…

Finalmente o locutor girou o globo e as bolinhas começaram a ser retiradas e anunciadas no microfone, de maneira estilosa:

  • “dois patinhos na lagoa é 22”
  • “é solito sete”
  • “trinta cravados”
  • “olha o número da sorte, 13”

E assim fomos marcando os números da cartela com os grãos de milho. Apesar de todo o pensamento positivo e desejo ardente da Mog, foi uma velhinha quem levantou a mão e bateu primeiro. O locutor conferiu os números, e para a decepção profunda de minha companheira, o cesto dos sonhos foi levado para outra mesa que não a nossa. Triste :.(

Mas a Mog não se abalou e concentrou seus desejos no prêmio da terceira rodada: uma cesta de alimentos com mantimentos básicos e algumas guloseimas.

Passamos a segunda rodada sem grandes conquistas numéricas, pois os grãos de milho estavam muito revoltados, não estavam querendo se alinhar.

Então começou a terceira que valeria a cesta da Mog. E não é que dessa vez os milhos começaram a se enfileirar? Eu lá com minha cartela vazia e a Mog esbanjando lotes ocupados. Comecei a prestar mais atenção na cartela dela do que na minha.

A boa sorte continuou e faltava só mais um para fechar aquela linha. Vem o 12, vem o 12, e o locutor falou “é uma dúzia, doze”. Hein?

— Aqui!, falou a Mog, com timidez.
— BINGO!, gritei empolgado, levantando e acenando o braço.

Uau, era verdade, tínhamos ganhado no bingo, já na terceira rodada! A Mog foi toda contente lá na frente levar a cartela e pegar a cesta. O cara conferiu os números, estava tudo certo. Mas…

Havia outra cartela para conferir, pois outro cara também tinha batido. Droga. O desempate foi no globo, ganhava quem tirasse o maior número. As bolotas iam de 1 a 75, o globo girou e a que caiu pra Mog foi: 7. É, aí ficou difícil :)

O cara tirou 35 e levou a cesta. A Mog voltou para a mesa toda desanimada por não ter ganho. Mas logo se conformou, dizendo que o cara parecia precisar daqueles alimentos muito mais do que nós. Melhor assim.

A quarta rodada não trouxe novidades e a brincadeira terminou. Foi divertido. Quase ganhamos! Quer dizer, ganhamos mas não levamos. Vamos de novo?

INTERVALO — Aproveite para tomar água e ir ao banheiro.

Já de volta? Vamos continuar então.

Dali alguns minutos começaria outra série de quatro rodadas. Confiantes de que a sorte continuaria, compramos novamente uma cartela cada um.

Havia outra cesta de alimentos nos prêmios, então a Mog já avisou o que queria ganhar. Mas outro prêmio inusitado chamava minha atenção: uma mangueira de jardim.

— Que bizarro seria ganhar uma mangueira no bingo, pensei.
— Vou ganhar a mangueira, disse confiante.
— Eu não quero essa mangueira tosca!, respondeu a Mog, indignada.

A rodada começou e infelizmente a cesta da Mog foi para outra pessoa. Hoje realmente não era o dia de ganhar a compra do mês… Então chegou a rodada da mangueira.

A Mog repetiu mais uma vez que não queria ganhar aquilo. Mas acho que ela não desejou direito, pois assim que as bolotas começaram a sair, os milhos começaram a lotar a sua cartela. Quanto mais números ela acertava, menos queria ganhar a mangueira tosca.

Eu até esqueci da minha cartela vazia e grudei os olhos na da Mog. Tinha várias possibilidades de bater, ela estava “na boa“. E mais uma vez, o locutor anunciou o número que faltava, bem aquele que eu estava olhando e torcendo.

— BINGO!, gritei empolgado, levantando os dois braços.
— Ãn?, a Mog respondeu.

O desinteresse pela mangueira era tanto que ela nem percebeu que tinha batido :) E dessa vez ela foi a única! Indignada e com vergonha, lá foi a Mog pegar seu prêmio exótico. Eu ri. Muito!

Com a mangueira amarelona novinha em cima da mesa, continuamos jogando as próximas rodadas. Cada vez que a Mog olhava para ela, resmungava que podia ter ganho o cesto de roupas ou a cesta de alimentos, mas ganhou uma mangueira tosca. Mais risadas :)

Ainda tentamos mais uma cartela para fechar R$ 10,00 gastos no bingo. Eram as últimas quatro rodadas da noite, mas não deu em nada, nossa sorte tinha sido esgotada na mangueira… Ou não!

Já era quase meia-noite, o bingo acabou e dava pena de ver a carinha de decepção da Mog por não ter ganho o cesto que queria. O pessoal foi embora e o lugar foi ficando vazio. Mas em uma mesa tinha uma velhinha que não saiu.

Agora é aquela hora mágica que uns chamam de mera coincidência, mas eu prefiro acreditar que há algo mais.

Lá estava, em pé ao lado de sua mesa, a velhinha que no início ganhou o cesto de roupas que a Mog queria. Ela também tinha ganho uma cesta de alimentos, então devia estar pensando como carregar tudo aquilo sozinha. Plim!

— Vou pegar teu cesto, Moguinha.

Catei a mangueira e fui conversar com a velhinha. Perguntei se ela tinha interesse em trocar o cesto de roupas pela mangueira. Ela olhou para o cesto, olhou a mangueira e disse: “Sim”.

Simples assim.

Voltei para nossa mesa carregando o cesto e a Mog não acreditava no que via. O rosto que segundos antes estava desanimado virou um sorrisão que brilhava de longe. Ela me abraçou forte e beijou, agradecendo.

Mas rapidamente fui trocado por um cesto tosco de plástico.

Ela se abraçou com ele e não largou mais. Sabe criança quando acaba de ganhar presente? Saímos da festa, e ela não largou o cesto. Voltamos para casa caminhando pela orla, e ela não largou o cesto. Ela não parou de falar no bingo e no seu cesto novo. Chegamos em casa uns 20 minutos depois e ela ainda não tinha largado o cesto ou parado de falar dele.

Conclusões:

  • Festa simples é massa.
  • Bingo é massa.
  • Gritar BINGO! é massa.
  • Foram os R$ 10,00 mais bem aproveitados de todos os tempos.
  • Ídolos é mais divertido do que Astros.
  • Pegue o limão (mangueira) e faça uma limonada — ou algo assim…
  • Não é preciso muito para ser feliz.
  • Ser trocado por um cesto dói, mas o sorriso dela vale o sofrimento :)

Neste sábado vai ter o Bingão que encerra a festa, que tem como prêmios principais um carro e uma moto. A Mog já falou que quer o carro. Já comprei quatro cartelas. E aí, será que rola? Ajude na torcida!

Atualização em 30 de Junho de 2008, por Mog:

Ai gente… Que empolgação que foi ir no bingo do carro neste sábado!

Eu e o Aurélio fomos munidos de QUATRO cartelas, canetas e prancheta. No maior esquema profissional e energia positiva na torcida pelo carro. Eu tinha certeza que viria dirigindo um carro zero pra casa, e que iria trocar meu querido fusca verde 71 por um celta vermelho zero.

Mas não deu… Matinhos inteira estava presente na festa, e quando eu e o Aurélio estávamos animados que meia cartela já estava cheia, vinha o locutor e anunciava que alguém já estava “na boa”.

Não ganhamos nada nesse bingo…

Daí, meio tristonhos por não conseguirmos ganhar nenhum dos prêmios do grande bingo de Matinhos, fomos dar uma volta pela festa e paramos para ver o binguinho. O esquema era o mesmo da semana passada, quando ganhamos um cesto (quer dizer, mangueira…): 2 reais pela cartela, podendo jogar 4 rodadas. Quando eu vi que um dos prêmios era um FRANGO ASSADO, não resisti.

— Vamos comprar uma cartela Aurélio? Eu quero ganhar o frango!

Aurélio ri da minha cara, e vai todo animado comprar a cartela. Namorado bom é como esse: tosco e topa qualquer tosquice. O amor não é lindo?!

Só que eu juro que achei que fosse um vale-frango, de alguma padaria ou lanchonete… Mas vocês não vão acreditar! O frango estava presente de corpo (e alma?) em cima do tablado, junto com os outros prêmios “normais”, tipo bonecas, bicicletas, cestas de guloseimas…

Daí que eu fiquei mais atentada ainda pra ganhar um frango! Imagina que arraso não ia ser desfilar pela festa com um frango assado debaixo do braço?

É, mas infelizmente estávamos azarados nesse dia. Nada de carro, nada de frango. O jeito foi se animar com o show que tava rolando, com um cantor-tecladista cego, cantando “cair, beber e levantar”. De novo.

— EOF —

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