Estou há 5 anos desempregado! Viva!

Atenção senhores pais, a leitura desse texto pode ser prejudicial ao futuro profissional de seus filhos. Ele foi escrito por um DESEMPREGADO e encoraja esta prática.

Hoje comemoro o quinto aniversário da minha alforria. Sexta-feira dia 23/09/2005 foi meu último dia de trabalho como empregado de uma empresa. Aos 27 anos, escolhi trocar o conforto e a segurança do salário garantido, pela aventura e incerteza do caminho alternativo.

Não me arrependi. Já estou há cinco anos desempregado e sou muito feliz com a vida que tenho. Não me falta nada, sou satisfeito. Não fiquei rico, mas também não falta dinheiro para pagar as contas. Escolho quando e com o que trabalhar, e também aproveito a vida com a minha amada Mog, que agora também é desempregada por opção. Nossa renda principal vem da venda dos livros que escrevi e dos anúncios do Google (AdSense) no site.

Pelo que vivi até aqui, dificilmente voltarei algum dia ao esquema corporativo. A satisfação de ser livre para escolher que direção seguir, mesmo sem saber exatamente onde quero chegar, não tem preço.

Muita gente me pergunta como é viver assim, e alguns pedem dicas para seguir este caminho também. Eu não acho que haja uma receita infalível, creio que cada um deve descobrir seu próprio caminho. O que posso fazer é contar a minha história para que sirva de inspiração ou modelo para quem quiser fazer o mesmo.

INSATISFAÇÃO E INÉRCIA

Durante oito anos trabalhei com informática nas empresas Conectiva (Curitiba) e Techlink (Florianópolis), e tive vários cargos: suporte técnico, administrador de sistemas, programador, testador e redator técnico. Também fui chefe de equipe, mas detestei a experiência, prefiro executar em vez de delegar.

Fui feliz nos primeiros anos da carreira, mas em 2005 eu já estava cansado de meu emprego e de minha profissão. Eu queria fazer algo diferente, mas não sabia exatamente o que. Estava insatisfeito. Por outro lado eu gostava da empresa e me acomodei com a certeza do salário na conta todo mês, então fui ficando…

Sem pensar e com o piloto automático ligado, segui na rodovia do conforto, em velocidade constante. Inércia. Inação. Engraçado pensar que conforto e acomodação às vezes parecem indistinguíveis.

A DEMISSÃO

Um dia a chefe trouxe minha lista de tarefas para o próximo semestre: uma mais chata que a outra. Eu já estava insatisfeito com as tarefas atuais, e agora viriam piores. Fiquei durante algum tempo olhando aquele papel e me vi amargurado fazendo aquilo nos próximos meses. Foi a gota d’água. Naquele momento a insatisfação extrapolou seus limites, não podia mais ser ignorada.

Esse foi o ponto de mudança, o que me fez desligar o piloto automático e PENSAR sobre minha vida. Os dias seguintes foram bem estranhos, com muita reflexão e análises. Questionei meu emprego, minha carreira, minhas escolhas e tudo o que eu vinha fazendo até então.

  • Vale a pena?
  • É isso o que quero pra minha vida?
  • Devo investir 1/3 do meu dia nisso?
  • Onde vou estar daqui 5 anos?

Estas e outras perguntas desafiavam meu conforto, minha acomodação. Eu já sabia as respostas, mas tinha medo de assumi-las, pois a única solução era a mudança. E você sabe, mudar dói.

Mas eu não tinha um plano B. Se eu saísse do emprego, não saberia o que fazer depois. Eu tinha um desejo louco de fazer algo diferente, mas nunca consegui definir o que seria isso. Sem ter um objetivo, ficava difícil fazer uma escolha.

Foi um processo mental longo, mas a insatisfação falou mais alto e finalmente tomei a decisão que iria mudar minha vida completamente: vou me demitir. Eu precisava parar tudo e depois pensar com calma no que fazer.

De toda essa brincadeira de cinco anos desempregado, tomar esta decisão foi a parte mais difícil.

Meus pais sempre me apóiam no que faço e nesse assunto não foi diferente. Foi muito importante ter seu apoio neste momento.

Agora só faltava a ação, então falei com a chefe e pedi demissão. Essa parte foi fácil.

Como curiosidade, eu achei aqui no meu calendário as anotações de meu último dia de trabalho: “23/09/2005 – Exame demissional no Intep de manhã, dei palestra sobre Mac OS X no Olimpo para os funcionários, almoço na churrascaria Vallejo, despedida geral.”

SOZINHO NA SELVA

A minha história pós-demissão é longa, com alguns altos e baixos, e já foi contada com detalhes aqui no blog. Se você ainda não leu, recomendo que leia na íntegra os dois textos que vou resumir a seguir:

https://aurelio.net/blog/2007/10/07/fiz-trinta/

Eu tinha um plano maluco: Demiti-me da Conectiva em setembro de 2005 e relaxei, deixando a mente livre para poder decidir o que faria da vida daquele ponto em diante. Meu objetivo era tentar algo novo e em dois anos estar ganhando o mesmo que eu ganhava naquela empresa.

No início de 2006 mudei-me para a praia (Matinhos) e tentei virar fotógrafo de surfe, mas não rendeu fruto$. Fiquei um bom tempo cheio de dúvidas, sem saber o que fazer. Tempos difíceis aqueles, fiquei quase um ano ganhando menos de um salário mínimo por mês, garantido pelas vendas do livrinho verde e da apostila de shell. As economias do banco começaram a secar.

https://aurelio.net/blog/2009/09/24/escritor/

Desempregado por opção, mas com o dinheiro contado para durar até o fim do ano, em meados de 2006 voltei às nerdices para tentar me sustentar sem precisar voltar ao esquemão empresa/CLT. Fiz alguns programinhas, lancei blogs e continuei atualizando o site. Foi neste ano também que lancei o meu primeiro livro “de verdade”.

Em 2007, trabalhei pesado para conseguir concretizar um projeto antigo: o livro de shell. Com quase 500 páginas, esse monstro me deu muito, muito, mas MUITO trabalho. Mas compensou: as vendas desse livro foram bem acima das minhas expectativas. Pela primeira vez, desde o início dessa brincadeira de escrever em 2001, comecei a ganhar um dinheiro legal com a venda de livros: cerca de mil reais mensais.

De 2007 pra cá, tive mais algumas conquistas:

Em outubro de 2007, ao completar 30 anos de idade e após dois anos desempregado, cumpri meu objetivo de ganhar o mesmo que eu ganhava de salário na Conectiva \o/

Em 2008 consegui sacar meu FGTS! Eu nem sabia, mas quem está desempregado há 3 anos pode sacar seu FGTS. Com muita alegria fui na Caixa Econômica assinar os papéis para poder sacar o dinheiro que há tanto tempo estava lá guardado. Esse dinheiro teria me ajudado muito em 2006, na época da pindaíba…

Em novembro de 2008, fiz uma palestra no evento Tchelinux, e nela citei que os ganhos mensais com AdSense, em reais, estavam em três dígitos, e que a expectativa era atingir os quatro dígitos em 2009. Essa meta foi atingida em março de 2009, graças aos artigos femininos da Mog, que respondem por 75% (!!!) dos ganhos com AdSense no site. Preciso escrever sobre estes artigos um dia…

Os livros vendem bem, de maneira constante. Os mil reais mensais de 2007 não mudaram muito, hoje ganho cerca de R$ 1.300,00 mensais com os direitos autorais da venda dos livros. Pra mim está excelente. Pretendo escrever mais livros, quem sabe esta renda aumente.

Em junho de 2010 a Mog saiu do emprego e agora trabalha em casa, aqui ao meu lado. Mais uma desempregada, para o desespero da família! :) Com isso, ela se dedicou ainda mais aos seus artigos, que já são mais de 170, com cerca de 15 mil acessos diários. Hoje ela já ganha mais do que o seu antigo salário, um sucesso em tempo recorde! Agora que está livre, ela está experimentando outras formas de ganhar dinheiro também, como vender suas roupas usadas e daqui alguns dias ela vai abrir uma loja virtual de produtos femininos. A Mog merece um texto só contando a história dela, que está sendo bem mais rápida e lucrativa que a minha :)

CONCLUSÃO

Não fiz planos, não sonhei com isso. Eu tinha uma vida normal com um emprego normal. Mas eu estava insatisfeito e após oito anos empregado, decidi me ejetar do sistema e tentar a sorte sozinho. Demorou mas deu certo, e hoje considero que essa foi a melhor decisão que tomei em minha carreira.

Já desempregado, meus primeiros planos falharam um atrás do outro. Mas persisti e considero que essas tentativas foram importantes para me preparar para viver fora do sistema. Parece que demora um tempo para sua mente se libertar das ideias pré-concebidas e poder mostrar seu potencial. É preciso sair da Matrix para aprender a viver fora dela.

Considero que a melhora na qualidade de vida é um dos grandes benefícios dessa vida de desempregado. Fazemos nosso horário de trabalho, tem dia que trabalhamos muito, outros pouco, outros nada. Temos tempo para fazer um almoço saudável e comer com calma, vamos no cinema no meio da tarde, saímos passear/viajar mesmo que seja durante a semana. O trabalho se adapta à vida e não o contrário.

A família, bem, ainda tem suas ressalvas. Estamos aqui vivendo bem, sem faltar dinheiro e com qualidade de vida, mas mesmo assim alguns familiares acham que o certo seria “ter um emprego estável”. É uma pena, se preocupam à toa.

Temos plena consciência que se nosso esquema alternativo falhar, basta arranjar um emprego e pronto, de volta à Matrix. Mas claro, vamos trabalhar para que isso não aconteça.

E que venham os próximos 5 anos! \o/

Ah, levei mais de 12 horas para fazer este texto. Foi difícil reunir tantas informações e deixá-las seguindo uma linha de pensamento. Diz se isso não é coisa de desempregado, ficar o dia todo em cima de um texto de blog? :)

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