Sou nerd, e, confirmando o estereótipo da classe, gosto de pesquisar, analisar e pensar muito antes de tomar decisões. Mesmo coisas relativamente simples, como comprar um telefone ou uma câmera fotográfica, levam meses para acontecer, pois eu só parto para a ação quando esgotei todas as possibilidades de mastur^M, digo, elucubração.
Só pra ilustrar, aqui estão alguns itens que penso em um dia comprar, seguido pelo tempo que estou “analisando”…
- Telefone sem fio — uns 6 meses
- Mac Mini na sala como media center — cerca de um ano
- iPhone — desde que foi lançado o primeiro, em 2007 :)
Tadinha da Mog, que cada vez que eu chego contando de algum equipamento legal que vi em algum lugar, ela já vira os olhos e fala: “Pronto, vai começar outra novela que não vai dar em nada!”
Esse tortuoso e demorado processo, quando termina em uma compra, geralmente me deixa satisfeito pois dificilmente acabo comprando algo que me arrependa. Afinal, se arrepender depois de tanta mastur^M, digo, reflexão, tinha que bater com o gato morto até ele miar.
Mmmm, seria esse ditado antiecológico? Ah, mas o gato já tá morto mesmo. Ecologia é sobre seres VIVOS, certo? :)
Mas tá, tudo isso só pra deixar o estimado leitor à par de minha compulsão nerd à inação. Não só para compras, mas para decisões da vida em geral. Típico de libriano, dirão os horoscopólogos de plantão.
Porém, contrariando toda essa inércia, quando é pra CRIAR algo, faço tudo o que os livros não recomendam: não planejo, não avalio direto, pesquiso meia-boca, acho mil desculpas para me convencer de que eu devo parar de pensar e FAZER aquilo AGORA!
Isso vale para os textos, como este aqui do blog, os textos dos livros que escrevi, os sites que fiz e também os programas que codifiquei. Ei, vou até usar esse texto aqui como exemplo (olha a ideia que apareceu agora enquanto escrevo!)
Minutos atrás, eu abri uma janela nova no TextMate (editor de textos) porque eu tinha que escrever um texto para o blog sobre o vídeo novo que eu gravei ontem.
Esse foi o ponto zero. Não houve um antes. Não houve planejamento. Não houveram pensamentos mil para esperar aparecer uma ideia genial de um texto bacanoso e divertido para anunciar mais um vídeo que gravei. Eu não sabia se só colaria a descrição do vídeo que eu já fiz lá no YouTube, se eu faria alguma introdução engraçadinha ou se contaria alguma história.
Bem, para começar, escrevi a primeira linha, que foi o título. Até agora ele continua lá, intacto, mas não garanto que continuará assim. Geralmente eu mudo antes de publicar.
Aí fui começar o texto de verdade. Eu ia afirmar que nunca planejo nada, que era meu jeito. Mas daí lembrei que eu sou bem o contrário. Daí lembrei de episódios recentes aqui em casa, da Mog me zoando porque faz anos que eu falo que vou comprar um iPhone. Tudo ocorreu num instante dentro da cabeça, mas foi o suficiente para escrever o parágrafo inicial deste texto.
Durante a escrita, lembrei que fora o iPhone, também tem o Mac Mini e o telefone sem fio que há tempos penso em comprar, mas nunca me decido. Então resolvi listá-los para deixar claro que essa demora faz parte de minha realidade.
O importante a notar, é que neste ponto, onde eu estava fazendo a lista desses produtos, eu não tinha a menor ideia como o texto iria evoluir para chegar no “fiz um vídeo ontem”. Aliás, até agora eu ainda não sei como vou fazer. Vamos torcer para que eu consiga :)
Bem, continuando no texto, como a introdução caminhava para o lado do “eu planejo”, agora eu precisava trazer o texto para o outro lado, o do “eu não planejo”, que tem a ver com o vídeo. Então vieram os próximos parágrafos.
Aí lá estava eu escrevendo que não planejo textos do blog, como este, e PIMBA!, surgiu a ideia de descrever como estou fazendo esse texto mesmo, pra tentar ilustrar o que se passa na minha cabeça nesse momento de criação.
Agora estou aqui, neste parágrafo. Já escrevi o texto inicial e a explicação dele. E agora? Sei lá, hora de ter alguma ideia nova.
— Bem, o texto já está grande demais e acho que consegui explicar mais ou menos como as coisas acontecem, então acho que dá pra falar do vídeo já.
— Será?
— Acho que sim.
— Mas não vai ficar um corte meio brusco?
— Talvez, mas o texto não pode ficar muito longo.
— Então tá.
— Beleza.
Então pessoal, agora que já expliquei com TEXTO como é esse fluxo “por demanda” de ideias, vou tentar mostrar com VÍDEO como isso funciona no design de sites:
A tarefa em si que eu fiz ali no vídeo não importa, é trivial para quem faz sites. O que importa é COMO tudo aconteceu. Foi mais ou menos como expliquei antes, das ideias aparecerem na cabeça na hora, enquanto eu estava executando o trabalho.
— E agora, daqui pra frente será que uso um trecho da descrição lá do YouTube pra complementar ou faço texto novo?
— Ah não, que preguiça de fazer mais texto, termina logo…
— Então tá, vou pegar a descrição mesmo.
— Beleza, melhor assim.
— Tá. Quer dizer, não. Mudei de ideia, vou escrever mais.
— Bem… Cê qui sabi.
Esse vídeo não foi planejado. Essa tarefa de editar o site e colocar os links no rodapé eu precisei fazer mesmo. Depois de tudo pronto, no ar, respondi o email do cara dizendo que tinha colocado os links lá, que era pra ele conferir (e me pagar hehe). Aí quando fui fechar a janela do navegador, vi todas aquelas abas abertas, deu curiosidade de dar uma passada geral da primeira até a última, pra ver como foi o progresso. Igual eu fiz no final do vídeo.
Só então veio o clique:
Ei, eu poderia gravar um vídeo mostrando isso aqui, que resume bem como é esse processo de ir fazendo aos coisas aos poucos, sem saber direito onde vai dar. Pode ser interessante.
E daí lá fui eu, mesmo gripado, fungando e com voz estranha, gravar este vídeo, antes que eu acabasse fechando aquela janela sem querer, que daí eu perderia todo esse histórico que estava guardado apenas na memória do navegador. Subi pro YouTube, já divulguei no twitter e agora aqui estou eu, terminando o texto que vou publicar no blog daqui a pouquinho.
Deixa ver, estou a uma hora e cinco minutos escrevendo. Esse até que foi rápido. Falar sobre pensamentos tem que ser na hora, senão escapa. Não dá muito tempo pra ficar lambendo o texto como geralmente faço :)
Ah! Antes que eu me esqueça, o Alex Lutkus, o genial criador da belíssima capa do meu livro Shell Script Profissional, finalmente fez um site pra ele. O site é todo bonitão, lotado das obras que aquela mente incansável produz. Mas o que eu mais gostei foi a parte dos rascunhos, onde dá pra admirar os rabiscos em papel que deram origem às obras. É uma outra maneira de conhecer um processo criativo (e bota criativo nisso!), recomendo fortemente a visita.
Ah2! Esse vídeo furou a fila do blog, então o “texto histórico” que prometi no texto anterior, fica pro próximo :)
Ah3! Mudei o título agora no final :P