Ando pensando em fazer um mestrado em computação, para aprender sobre assuntos mais densos e quem sabe no futuro dar aulas em alguma faculdade/universidade. Só tem um pequenino problema: minha formação acadêmica é risível.
Fiz uns 8 meses de Bacharelado em Informática na UFPR, lá por 1997. As aulas eram difíceis. Reprovei em Cálculo I, e ao fazer de novo essa matéria, achando que dessa vez iria conseguir, olha o que acontece: tirei 0,5 na primeira prova. O quê? Meio?!?? Acertei somente o meu nome completo, decerto… Sempre tirei notas boas no 1º grau e no curso de Eletrônica no CEFET-PR (que hoje é UTF-PR), então aquele 0,5 foi um atestado definitivo de que aquele curso não era pra mim.
Mudei para uma faculdade mais fácil, curta (somente 3 anos) e focada no mercado de trabalho, a ESEEI (que hoje não existe mais) no curso de Tecnólogo em Processamento de Dados. Ali era o outro extremo: tudo era muito superficial e fácil, com uma turma noturna desinteressada e cansada de já ter trabalhado o dia todo. Vi um pouco de Java, programação orientada a objetos, SQL e só. Currículo básico para conseguir emprego de programador-peão. Nada de teoria, matemática e fundamentos da computacão.
Resultado: me formei sem nunca ter estudado temas como algoritmos, grafos, compiladores, cálculos com vetores e tantos outros assuntos interessantes que eu teria visto se tivesse continuado na UFPR. Hoje eu me arrependo dessa escolha, mas na época fazia sentido, pois eu já trabalhava com Linux na Conectiva e via a faculdade como um empecilho, uma perda de tempo.
Pula para 2015, aqui estou eu com quase 20 anos de experiência de trabalho nas áreas de programação, administração de sistemas e documentação técnica, tudo aprendido na prática, porém com lacunas de conhecimento e sem a base formal. Sinto falta de saber a teoria por trás daquilo que aplico diariamente, conhecer os algoritmos clássicos e entender bem o funcionamento dos bits e bytes.
Olhando assim, em retrospectiva, fica fácil entender porque eu sempre me interessei por linguagens de alto nível, como sed, Bash, PHP, Python, JavaScript, Ruby, que não exigem o conhecimento de bits e bytes como as linguagens de baixo nível.
Hoje tenho algumas alternativas para completar as lacunas, há diversos livros e cursos online, em inglês e português. Com a experiência já acumulada, hoje posso aprender com mais facilidade do que 20 anos atrás. Não me vejo fazendo outra graduação, pois demora demais e exige muito tempo livre. Um mestrado poderia ser o guia (e a grande pressão) para eu finalmente resolver este bug na minha formação.
Aí entra o POSCOMP na história.
POSCOMP é um exame organizado anualmente pela Sociedade Brasileira de Computação com o objetivo de testar os conhecimentos em computação dos candidatos a vagas em programas de pós-graduação na área. As instituições que oferecem as vagas utilizam o resultado do exame nas mais diversas maneiras em seus processos seletivos. — Wikipédia
O POSCOMP é uma forma de mostrar que o martírio da Ciência da Computação não foi nada perto da frustração de ter que chutar 80% das questões em uma única prova. — Desciclopédia
Legal, posso fazer essa prova pra atestar o quão ruim é minha formação acadêmica, e na remota possibilidade de eu ir bem, talvez conseguir alguma vaga de mestrado aqui perto, em Joinville mesmo ou Curitiba. Vale a pena tentar :)
Seguindo a tradição brasileira, deixei tudo para a última hora. Somente no dia da prova (27/09/2015) é que fui me preparar: instalei um aplicativo para Android que trazia algumas questões de provas passadas e dei uma olhada geral.
A prova foi aqui em Joinville mesmo, na UDESC, tinha cerca de 30 pessoas (somente 2 mulheres). Todos eram bem jovens, eu era o tiozão da turma :) Foram 4 horas de prova para responder 70 questões de computação nas áreas de matemática, fundamentos e tecnologia. Fui o último a terminar, usei todo o tempo disponível.
Fiz a prova de trás para frente, pois as últimas perguntas eram as que eu sabia, que envolviam conhecimentos práticos em programação, SQL e tecnologia em geral. Foi um começo animador! Mas conforme fui voltando as folhas, foi só ladeira abaixo… O desespero mesmo foram as primeiras perguntas, que eram de matemática.
- Últimas 15 perguntas: acertei 13 👍
- Primeiras 15 perguntas: acertei 6 (sendo 3 no chute cego) 💩
Gostei de fazer as perguntas de programação, onde foi necessário “executar” o código na cabeça para chegar ao resultado. A de SQL foi tranquila para quem usa no dia a dia. Algumas consegui resolver de maneira intuitiva, com base nos dados e respostas. Mas olha que sacanagem, não caiu nenhuma pergunta sobre expressões regulares! :)
Tive dificuldade com o jargão acadêmico. Às vezes eu sabia como resolver o problema, mas a dificuldade era interpretar os termos e notações. Nas questões de lógica por exemplo, usaram ∧ ∨ ¬
para representar AND, OR e NOT. Nas questões de conjuntos, eu nem lembrava mais o que era cada símbolo. Alguns termos eu conhecia somente em inglês e o similar em português me confundiu.
Pelo gabarito preliminar, acertei 40 das 70 questões (57%). Não foi um bom aproveitamento, mas fiquei feliz por ter acertado mais da metade, pois saí da prova achando que tinha ido muito mal. O resultado oficial sai em novembro, mostrando como fiquei em relação à média geral. Me disseram que é isso o que importa, então aguardemos…
Gostei da experiência de fazer a prova. Foi bom testar os conhecimentos, relembrar conceitos e comprovar como sou fraco em matemática e teoria da computação :)
Pra quem ficou curios[oa], a prova e o gabarito estão no site http://vestibular.ufg.br/2015/poscomp/.
Atualização: Saiu o resultado. Acertei 41 questões. A média geral foi 29,1 e o desvio padrão 7,3. Então consegui, fiquei acima da média+desvio! \o/