Ilhado em Joinville

No sábado fui para Joinville ver minha querida noiva Mog.

Em Curitiba, tempo bom.
Na serra, tempo bom.
Foi só passar Garuva, chuva.
“Bem-vindo a Chovinville“, pensei.

Na rodoviária, muita chuva.
No ponto de ônibus, muita chuva.
No ônibus Sul Norte, muita chuva e conversa com um senhor de cabelos brancos.

Ele explicou que lá chove muito por causa
dos mangues,
dos rios,
das baías de São Francisco, Guaratuba e Paranaguá,
das montanhas e
da umidade do ar em 60%. (há controvérsia)

Disse também que dependendo da lua o rio sobe e dá enchente.

Mas tudo bem, ainda era sábado de manhã.
Parecia somente mais uma chuva forte em Chuville.
Normal.

Puxo a cordinha.
“Parada solicitada” acende.
Ônibus freia.
Eu desço.

Ah, droga, desci um ponto antes.
Um dia eu acerto…
Corrida rápida até o portão da Mog.
Cheguei encharcado.

Pelo menos a chuva tem seu lado bom.
Passar o dia debaixo das cobertas com a minha Mog.
Perfeito.

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Sábado e domingo as notícias na TV não são animadoras.
Centro alagado.
Terminal alagado.
Ruas bloqueadas.
Trânsito caótico.
Grávida em trabalho de parto no banco do carro.
“Não saiam de suas casas”, diz o policial.

Mas isso era fichinha perto de Blumenau.
Opa, Itajaí também.
Xi, Balneário Camboriú também.
Jaraguá do Sul, Rio dos Cedros, Floripa

— Que isso? Devemos empacotar as coisas e procurar um barco?
— Aqui é alto, não alaga.
— Tá… Tem certeza?
— Ahan. Só o quintal ali atrás que vira um lago.
— Glup.

“Estrada bloqueada em Garuva”, diz a TV.
— Caiu um morro, ou algo assim.
— Antes ou depois do trevo?
— Quilômetro 12.
— Lascou, o trevo é lá pelo km 7.
— Não dá pra ir nem pra Matinhos nem pra Curitiba.
— Glup.

— Olha só, saiu até no Fantástico.
— Ih, a mãe deve tar vendo isso.
— Ela vai ficar desesperada.
— Com certeza.
— Ligou pra ela?
— Não.
— Então liga.
— Tá.

— Mãe, tou vivo. Só não sei quando volto.
— Glup.

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Segunda de manhã, Mog foi trabalhar.
E a chuva não parou.
Liguei para a Catarinense.
— Tem ônibus de Joinville para Curitiba?
— Todas as linhas estão suspensas.
— Todas?
— Sim.
— Glup.

Mog veio almoçar.
E a chuva não parou.
— Moguinha, Catarinense parada, não tem ônibus pra lugar nenhum.
— Nem quero que tu vá hoje e uma pedra pegue teu ônibus.
— É mesmo… Glup.

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Terça de manhã, Mog foi trabalhar.
E a chuva não parou.
Liguei para a Catarinense.
Ocupado.
Ocupado.
Ocupado.

Terça de tarde fui na rodoviária.
— Tem ônibus pra Curitiba?
— Sim, estamos dando a volta por São Bento do Sul.
— Demora muito?
— São cerca de duas horas a mais no trajeto.
— Negócio fechado.

Na verdade foram três horas a mais.
Longas cinco horas de Joinville a Curitiba.
Muita bolacha, água, Nerdcast e um bom livro.
Dez da noite.
Ufa, cheguei.

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O Rodrigo Stulzer também estava em Santa Catarina neste final de semana de enchentes, porém ele viu tudo mais de perto e tirou fotos. Confira lá no blog dele!

Atualização: Se você quiser fazer uma doação para ajudar as vítimas da enchente, ou quer saber as informações atualizadas sobre a situação das cidades e estradas, vá ao site da Defesa Civil de Santa Catarina (valeu Alexandre Muller!)

Curiosidade religiosa: Esse é o texto de número 666 aqui do blog…

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