Resumo: Férias no trabalho, fiquei na praia (Matinhos-PR) 30 dias, só surfando, andando de bicicleta e jogando joguinhos no computador. Sozinho, sem Internet, sem e-mail, uma verdadeira terapia. De 09-jan a 09-fev de 2005.
Visual da praia de Matinhos numa manhã de sol
A Idéia
Nas férias anteriores eu fiz viagens longas, como ir para o litoral sul de Santa Catarina ou para o deserto do Atacama no Chile. Dessa vez resolvi fazer algo diferente: ficar aqui do lado em Matinhos/Caiobá (120 Km), praia do Paraná onde minha família tem um apartamento.
A idéia era estacionar o carro e só usá-lo novamente depois de terminadas as férias. E assim foi. Foram 30 dias de tranqüilidade, sem se preocupar com pousadas, estrada, incertezas e desconforto. Como locomoção apenas o par de chinelos e a bicicleta. As maiores preocupações foram "vou passear para qual lado da praia?" ou "será que entro no mar agora ou espero o sol baixar um pouco?".
Como sou nerd, um dos pontos cruciais das férias foi ficar sem Internet e todos os seus agregados (e-mail, listas, IRC, ICQ, orkut) que eu uso diariamente. Antes da viagem fiquei imaginando se conseguiria me "desconectar". Ha! Foi moleza. Como é bom ficar longe disso tudo.
É assombroso perceber como estou totalmente dependente da Internet para fazer tudo: contatos, amigos, diversão, pesquisa, projetos... Mas também é confortante saber que é possível ficar sem isso e continuar numa boa. Morte aos e-mails! :D
Os 30 dias passaram voando e infelizmente terminaram (alguém aí quer me pagar para ficar na praia?). O lado nerd volta ao domínio novamente e cá estou eu escrevendo o relato das férias para colocar na Internet... Coisas da vida.
Rotina
- Acordar 07h30 com o sol na cara (ou não)
- Se tiver onda, ir surfar
- Senão volta a dormir
- Acordar de novo às 09h00 e repetir a checagem das ondas
- Se tiver onda, comer algo leve e ir surfar
- Senão, tomar um cafézão pesado
- Se estiver com sol, andar de bicicleta ou a pé no calçadão
- Se estiver chovendo, jogar algum joguinho no computador
- Acordar de novo às 09h00 e repetir a checagem das ondas
- Almoço entre 12h30 e 15h00
- Comer como se não houvesse amanhã
- Ficar lagarteando 2 horas depois do almoço
- Nova checagem das ondas
- Repete a rotina da manhã de surfar ou passear ou jogar
- Fim de tarde, caso não esteja no mar, nova checagem das ondas
- Se tiver onda, comer algo leve e ir surfar
- Senão, tomar um cafézão pesado e ir passear ou jogar
- Janta entre 20h00 e 23h00
- Se tiver voltado do mar, comer como se não houvesse amanhã
- Senão, comer qualquer coisa que tenha na geladeira
- Programa noturno
- Se o tempo estiver bom, andar de bicicleta ou a pé no calçadão
- Se o tempo estiver ruim, jogar algum joguinho no computador
- Ir dormir entre 00h00 e 03h00
- REPEAT
Surfe
Este foi um Janeiro realmente atípico: deu onda! Lembro que anos atrás quando eu passava a temporada na praia no verão, eram vários os dias em que o mar ficava totalmente calmo (flat), aquele tapete liso sem onda alguma.
O Mar
Dessa vez, Matinhos me surpreendeu. Todo dia tinha onda. Às vezes pequenas, mas sempre surfáveis. Incrível, fantástico, extraordinário! As frentes frias que passaram pelo litoral ajudaram no processo. Metade dos dias foram de sol forte e a outra metade de chuva e vento. Como não vou para a praia para me bronzear, as chuvas e ressacas são sempre bem-vindas.
E para ficar melhor ainda, na sexta-feira dia 28 de Janeiro entrou uma ondulação forte que fez o mar subir e quebrar ondas de até 2 metros de altura (de frente). Foi um êxtase, primeiro porque as ondas em Matinhos geralmente são pequenas (de meio metro a um metro) e segundo porque a ondulação agüentou SETE dias, que maravilha!
Mar nervoso em Matinhos, no verão. Dá pra acreditar?
Me esbaldei, era surfe de manhã e de tarde, numa média de 5 horas por dia com ondas grandes e fortes. Alguns dias estava liso e tubular, outros mexidão e quebra-côco, mas a diversão era garantida.
Aproveitei cinco dos sete dias de ondulação. No quinto dia (1º de Fevereiro) me cortei com a quilha da prancha e tive que ir para o Pronto Socorro levar 3 pontos no pé (mais detalhes no final deste relato). Tive que ficar sem entrar no mar até o carnaval, então o surfe acabou por aí.
O progresso
Antes dessas férias, eu já estava a uns quatro anos sem surfar sério. Apenas algumas raras exceções. E teve a incrível façanha de ter morado um ano e meio em Floripa e lá ter surfado apenas DOIS dias. Uma vergonha.
Levei cerca de uma semana para voltar a ter intimidade com a prancha e as ondas, além de conseguir algum fôlego. Na segunda semana o surfe voltou ao ponto onde eu tinha parado. Nada de extraordinário: dropar, pegar gás, umas rasgadinhas, batidinhas e floaters. Senti que o carve ajudou no processo, eu já estava meio "preparado" para as cavadas.
Da terceira semana em diante comecei a progredir lentamente, aprendendo dicas novas e tentando outras manobras. Se consolidou uma preferência pelo backside em ondas grandes e o frontside nas menores.
Fantasia de carnaval: surfista
O Iluminado
Um dia qualquer, era de manhã perto das 11 e eu estava andando no calçadão, pois o mar estava palha. Pelo menos era o que eu achava. Aí vi um cara pegar uma onda pequena, dar um gás de leves e soltar um aéreo. Assim, na cara dura, numa onda de menos de meio metro.
Parei para olhar e o que presenciei foi uma seqüência de aéreos, 360 e desgarrradas de rabeta que pareciam impossíveis de se fazer naquelas ondas minúsculas e de formação irregular. Foi uma aula de surfe e de atitude.
Ao ver aquela demonstração me senti iluminado. De repente compreendi que a limitação estava no surfista (eu) e não na onda. "Não existem ondas ruins, apenas surfistas ruins", pensava. Por observação, aprendi algumas lições para tentar por em prática:
- O gás é a chave da onda pequena. Dê gás, sempre. (Dar gás == Pegar velocidade)
- Ignore a espuma da quebra irregular. Passe por cima ou pelo lado, mas a onda ainda não acabou.
- Se a onda engordar, não desista. Mate barata até que ela se levante novamente.
- Pegue todas as ondas que puder, não somente as da série. Mesmo as intermediárias podem render boas manobras.
- Vá até o final da onda, até a areia se conseguir. Mesmo sem tamanho e força ainda é possível manobrar.
VALEU CARA!
Nerdz
Eu fiquei 30 dias em Internet, mas não sem computador. Levei o iBook querido junto, para me fazer companhia nas noites de chuva. Antes da viagem "preparei" o bichinho, instalando vários emuladores e seus respectivos joguinhos: Atari, Super Nintendo, Arcade e Scumm (Lucas Games).
Joguinhoz
Foram várias as noites chuvosas, tive bastante tempo para brincar. Fazia muito tempo que eu não jogava assim, de ficar horas seguidas montando quebra-cabeças, passando fases, chegar até o final. Como é bom! Foi bom relembrar os jogos antigos. Segue a lista dos jogos terminados nestas férias:
- Aero Fighters 2 (mame)
- Cadillacs & Dinossaurs (mame)
- Mad Gear (mame)
- Road Fighter (mame)
- Day of the Tentacle (scumm)
- The Dig (scumm)
- Yoshi’s Island (snes)
Os joguinhos do Arcade são legais, mas show de bola mesmo são os jogos de aventura da Lucas Games. Day of the Tentacle é uma piração, um jogo criativo e divertido de jogar. O The Dig é um filme: os diálogos, os cenários, os quebra-cabeças... Tudo é perfeito, simples, intuitivo. Nada precisa ser explicado, basta experimentar. Tem o dedo do Spielberg e do George Lucas.
Outro que matou a pau foi o Yoshi’s Island, a continuação do Super Mario World. Eu não conhecia e fiquei impressionado com a jogabilidade e efeitos de tela, nota 10 para os criadores. Um dos "chefes" você enfrenta num mini-mundo (tipo Pequeno Príncipe) e ao andar todo o cenário gira e você fica sempre no topo, muito massa. Outro é dentro do estômago dele, que fica se mexendo. É a evolução do Mario, show.
Textoz
Fora os joguinhos, também escrevi muito nessas férias. O aurelio.net sofreu um faxina geral, daquelas do tipo "quando eu tiver tempo eu faço". Foram criadas áreas novas, reorganizadas outras que estavam bagunçadas e um CSS padronizado e limpo para ser usado na maioria das páginas.
Na parte musical foi criada uma área específica, contando com várias histórias e um artigo novinho em folha que descreve o pogo, a "dança" punk.
Na parte de documentação foi criado um índice centralizado para todos os textos técnicos que já escrevi. Também fiz o FAQ VERDE. Dois itens que estavam há tempos na minha lista de pendências.
E para minha surpresa, surgiu a idéia de um livro novo e escrevi um pedação. O detalhe é que é uma história, com personagens e roteiro. Roteiro nerd, é claro. Mas esse projeto ainda é uma criança, vamos ver se vai para frente.
Como é bom ficar sem Internet, o tempo rende que é uma beleza, sem distrações!
"Acho que vai uns 3 pontos"
Terça-feira, primeiro de Fevereiro, meio-dia, sol forte. Mar grande e liso, com ondas de um metro e meio a dois metros na série, quebrando forte e fechado, abrindo a vala e fazendo o drop ser um mergulho no ar.
Eu estava na água desde às 09h30, já tinha pego várias ondas de fazer abrir o sorrisão e já estava cansado. Peguei uma onda curta (fechou as portas) e depois remei de volta para o fundo. Mas eu estava remando distraído, pensando na vida (mané) e de repente vi quebrar uma onda monstra (de uns dois metros) na minha frente, a um metro e meio de distância.
A visão do inferno: aquele barulho forte e grave de estouro e aquela espuma branca que levanta alto depois de bater com a água. Eu tinha apenas um segundo antes dela me atingir.
Contexto para quem não surfa: o momento de maior poder e força da onda é 1 segundo após a sua quebra (quando ela bate na água e aparece a espuma). Mais 3 ou 4 segundos após ela ainda é bem forte e é difícil de dar um peixinho (furar a onda por baixo com a prancha) sem ser chacoalhado de maneira brusca. A sensação é a de estar dentro de uma máquina de lavar roupa de porta frontal, não largar a prancha é tudo o que importa.
Como a onda quebrou na minha frente, ela ia me atingir com força total. Não havia muito o que fazer, já era tarde para tentar um peixinho (que leva cerca de 1 segundo para se posicionar e afundar a prancha o suficiente), então joguei a prancha para o lado e mergulhei, no melhor estilo socorro-mamãe. Mas a onda já estava em cima, no auge do seu poder. No mergulho os pés são os últimos que afundam e a onda jogou a prancha de volta contra mim. Podia ter batido qualquer parte, mas foram justo as quilhas que fizeram o serviço no meu pé direito. Ainda bem que não foi no meu pé tatuado &:)
Ganhei um olho (para não dizer outra coisa) no meu pé
Se cortar com a quilha é sempre igual: dói e tem carninha branca. Dói porque é sempre uma pancada forte. A quilha é meio afiada mas não chega a cortar. Só que geralmente vem uma pancada junto, aí o corte é feito na força, como uma faca cega. Assim sendo, geralmente é fundo e largo. Não sei se é o mar, mas nos primeiros segundos não sangra, então você tem tempo de apreciar aquele buraco lindo e uma carne branca nele. É a sua carne! Será que somos mais próximos das galinhas do que das vacas? Só depois vem o sangue e faz a lambança.
Ah, a onda era tão forte que também arrebentou a corda (leash, strap) e a prancha foi arrastada láááá para a areia. Tive que sair do mar nadando e se embolando (pegar jacaré naquelas ondas não tinha como), já pensando no prejuízo $$$ de ter que comprar uma corda nova. Ou seja, foi um serviço completo da Sra. Onda.
Já na areia, peguei a prancha e olhei novamente para a carne branca no pé e agora já começava a sangrar. Além do corte direto ainda teve outros ferimentos mais superficiais, que só "tirou a tampa". Fui até o posto de Salva-Vidas ali do lado para perguntar se seria necessário dar pontos ou se eu poderia só fazer um curativo. "Acho que vai uns 3 pontos" ele disse. Fizeram uma limpeza e um curativo rápido para estancar o sangue e me indicaram a direção do hospital.
Fazer o quê... Fui até em casa (tirei a foto), peguei a bicicleta e fui para o hospital. Como era SUS, já fui preparado para ficar horas por lá. No fim foi rapidinho, em menos de uma hora eu estava de volta em casa com o pé costurado e enfaixado. Show de bola!
Pé retalhado e costurado, fim do surfe nessas férias :/
Foram três pontos mesmo. Quatro, se contar que o primeiro soltou e o médico teve que furar de novo. Fiz sem anestesia, para sentir a dor e lembrar dela na próxima vez que estiver remando distraído em dia de mar grande &;)
Dias depois eu mesmo retirei os pontos em casa. Aí já aproveitei e tirei fotos e escrevi um artigo novo para o site. Veja lá: Como retirar os pontos de uma sutura.