A VOZ A voz tem uma significação especial na oratória. Uma boa voz facilita a emissão do orador e lhe dá um apoio firme. Geralmente, este aspecto da vida cotidiana - expressão oral - é descuidada e diminui assim o interesse da conversação. Para falar em público, o ideal seria satisfazer as qualida- des que Quintiliano exigia, "uma voz desembaraçada, cheia, suave, flexível, sadia, doce, amável, clara, limpa, penetrante e que não perturbe os ouvidos". Mas as qualidades vocais vêm junto com o nascimento do indivíduo. Seria necessário aperfeiçoá-lo, a partir dessas condições inatas. O principal é perceber as virtudes ou defeitos da própria voz, para aproveitar as primeiras e corrigir, na medida do possível, as segundas. Existem três elementos determinantes da voz humana: o orga- nismo, o ambiente e a personalidade. A parte orgânica condiciona a voz, pois esta depende especialmente da conformidade do apare- lho vocal e do estado físico geral. O ambiente, também tem a sua importância, pois muitos hábitos de locução provêm da imitação ou contágio, como por exemplo: o sotaque regional. Por último, a per- sonalidade também influi. A inteligência, a entoação, a dicção, etc, revelam, sem dúvida alguma, o caráter e o próprio eu. A voz humana tem, como qualquer outro som, qualidades pró- prias. Elas são: tom, timbre, quantidade e intensidade. O tom é a altura musical da voz. Segundo o tom, as vozes hu- manas classificam-se em agudas ou graves. A escala de registro e de altura permite classificar as vozes masculinas, geralmente em três categorias: tenor, barítono e baixo. Também existem tipos de vozes intermediárias. Sob o ponto de vista oratório, a melhor voz é a do barítono. Timbre é o matiz pessoal da voz. É um fenômeno complexo e es- tá determinado pelo tom fundamental e pelos seus harmônicos ou se- cundários. Reconhece-se pelo timbre característico a pessoa com a qual se fala. Há vozes bem timbradas e agradáveis, mas também existem roucas, agudas e chiadas. Quantidade é a duração do som. Segundo a quantidade, os sons podem ser longos ou curtos, com toda a gama intermediária de semi-longos, semi-curtos, etc. A quantidade depende, geralmente, das características de cada língua, dos costumes linguísticos das regiões ou países, da psicologia do habitante, etc. Intensidade é a maior ou menor força com que se produz a voz. Há vozes fracas e vozes fortes. Em fonética denomina-se sotaque ao conjunto dos elementos an- teriores, cuja combinação especial em cada língua e mesmo em cada indivíduo, dá a essa língua uma característica diferente daquela ouvida no inglês ou no francês. Por exemplo, dentro do campo lin- güístico do espanhol, há um sotaque argentino, um outro mexicano e tantos sotaques quantos países onde o espanhol é falado. A di- ferença existe também entre zonas ou estados de um mesmo país. Também podemos dizer que se encontram diferenças em bairros de uma mesma cidade. Finalmente, os sons têm uma escala diferente de percepção ou alcance. Existem sons que, por natureza própria, conseguem-se ou- vir de muito longe, como a vogal "a", enquanto outros, são escuta- dos a uma distância mais curta, como a "u". As vozes têm também diferente alcance ou percepção, segundo as pessoas. DO LIVRO "INTRODUÇÃO À ORATÓRIA MODERNA", DE CARLOS ALBERTO LO- PRETE - EDITORA NOVA (1967)